Em meu leito.

em meu leito
trancado, em meus pensamentos
demasiadamente exacerbados
cheios de sonhos desvairados

em ciência do que ocorre
dentro da minha cabeça escorre
a chuva que não me apetece
e encandeia o feixe de luz
do sol que mal posso sentir

em essência, sonolento
em gênese, preso aos pés soltos
que no ar não se estabilizam
nem na terra, nem no céu

um soneto em meu estômago
faz soltar meu diafragma
desestabiliza a fome
que come os músculos que tenho

vira a noite dos sentidos,
e dos pensamentos corridos
como o coelho apressado
que olha rapidamente o relógio
mas mal consegue ler as horas

em meu jazido, estou despido
desprevenido dos meus pés
que me prendem ao sono vão
sem que eu ouça o sinal do som

dos sinos que tocam, na catedral
das trombetas que tocam ao pé da cama
dos tambores rufando em uma ágora
e dos gritos de uma platéia romana
ou do fuzuê de um mercado veneziano

em meu leito, desatino
nos mesmos nós que eu criei
no meu porto eu sou rei
servo, escravo e militante
rego as pedras, que um dia serão flores